terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Um conto de Natal



Quando o velho rico Naabot leu a carta que lhe havia chegado naquela tarde, deu um grande suspiro...

- Ah, a família! Quem escrevia era o seu primo, avisando-lhe de sua próxima visita. Zabulão, filho de Dibão… - Sua memória o inspirava ao mesmo tempo pena e certa aversão. Os dois, de famílias acomodadas em Israel, haviam sido muito próximos, quando jovens. Passado os anos, Naabot, empreendedor e incansável comerciante, converteu-se em um dos homens mais rios de Jerussalém. Zabulão, pelo contrário, viu seus negócios rodando em uma trágica serie de desgraças, e pelo que se sabia, estava agora à beira da mais completa ruina.
Contudo, depois de anos de separação, sentia curiosidade por vê-lo de novo, por isso marcou um encontro em sua casa de campo, a pouco mais de 6 milhas ao sul de Jerusalém.
O sol se pôs atrás das colinas arenosas, naquela tarde de dezembro, quando os primos se reuniram. O contraste entre os dois era chocante. Naabot era uma figura encarnada da sorte. Alegre, gordo e exalava caros perfumes, vestia uma túnica de seda persa, e vistosos anéis brilhavam em quase todos os seus dedos. Pelo contrário, o grisalho Zabulão, personificação do fracasso e da pobreza. Seu rosto estava marcado por uma contínua e silenciosa resignação. Seu corpo esquálido estava coberto por uma túnica tão rasgada, que não poderia se adivinhar a cor original. Quem o visse, não poderia crer que um dia fora um homem de muitas posses. Compadecido, Naabot o convidou para jantar, convite humildemente aceito pelo outro.
Durante o jantar, que o pobre compreensivelmente devorava com avidez, falaram sobre o passado, lembrando da infância e da juventude de ambos. Certo momento, Naabot declarou ao primo seu modo de ver as coisas.
- Veja, Zabulão, eu respeito profundamente ao Deus de Abraão, mas deixemos o Todo-Poderoso em seu templo, que é bastante grande. Aqui, sobretudo no comércio, devemos utilizar da astucia e todos os meios que estão ao nosso alcance, para obter êxito e riqueza. E dizia isto contorcia as mãos, como que agarrando um punhado de imaginárias moedas diante dele.
O primo pobre, homem piedoso, não era de acordo com este ponto de vista materialista de Naabot, e também discutiram a respeito por um bom tempo durante a noite. Entretanto se respeitavam, entre os dois havia uma profunda divergência na forma de ver a vida. Por ultimo, vendo que não chegariam a nenhuma conclusão, Naabot interrompeu a conversa e disse:
- “Bem, vamos ser sinceros. Não terá sido para discutir filosofia, nem para lembrar o passado, que o meu bom primo decidiu vir visitar-me. Assim, diga-me, Zabulão, tens algo que eu possa te ajudar?”
- “Sim!” – disse o infeliz, curvando a cabeça – “Necessito tua ajuda. Mas não venho pedir dinheiro, somente propor um trato”.
- “Que negócio?” – perguntou curioso o comerciante
- “Como deves saber, tudo o que eu tinha, perdi. Tudo, salvo apenas um pequeno pedaço de terra, o resto de uma granja, que em outros tempos era grande, não muito longe daqui. Acreditas que podes comprar este terreno?” – Naabot deu uma gargalhada.
- “Sim, posso comprá-lo? Meu querido Zabulão, atrevo-me dizer, sem exagerar e nem com arrogância, que tenho dinheiro para comprar qualquer coisa em Jerusalém, exceto o Templo e o palácio do governador, porque, evidentemente, não estão à venda. Escuta, se por acaso o sítio valer mais do que o que estou pensando em oferecer-te, entrego-te os meus anéis”.   – E balançava ligeiramente as mãos, fazendo brilhar os diamantes e safiras. – “Disse-me que não está longe? Então, peguemos dois cavalos e alguns homens e vamos ver esta terra. Assim, esta noite te pagarei, para que os fariseus não digam que não ajudei a um familiar necessitado.
E assim foi. Era uma noite maravilhosamente estrelada, bonita e clara. E como Zabulão havia dito, o lugar estava próximo. Mas, ao chegar ali, viram a uma certa distância, ao lado da colina, algumas silhuetas de homens, camelos e cavalos.
- “Oh, uma caravana! Teu terreno é ocupado pelos beduínos, Zabulão. Vai custar mais dinheiro para eu tira-los dali. Vamos ver, mais de perto, quantos são”.
No entanto, ao aproximar-se, Naabot observou preciosos adornos nos camelos e, surpreendido, murmurou:
- “Por Elias, não são beduínos, são homens ricos, talvez até sejam nobres. Que fazem aqui?” – cheios de curiosidade, os dois judeus e seus guardas aproximaram-se cada vez mais, sem prestar atenção aos integrantes da caravana, nem estes neles. De repente, apareceram os três chefes deste grupo desconhecido. Os três israelitas estavam atônitos. Não era simplesmente nobres, pelas coroas que portavam, eram reis! Tão ricos e suntuosos, que Naabot sentiu-se como sua suposta fortuna reduzia-se a ponto de parecer insignificante.
Não haviam percebido, mas aos pés do monte havia uma pequena e pobre gruta, para onde os enigmáticos reis se dirigiram. Vendo o céu, Zabulão se deu conta que a noite estava clara, não tanto pelas estrelas, mas sim por uma em particular, que superava a todos pelo seu brilho. Esta parecia assentar-se suavemente na colina.
No interior da gruta se encontravam, entre um boi e uma mula, um home com sua jovem esposa, que tinha em seus braços um recém-nascido que sorria. Era algo fantástico, porque deste Menino parecia irradiar uma luz misteriosa, mas tênue, que envolvia a gruta e a todos os presentes. Então os reis, um por vez, inclinaram-se em adoração diante do Menino, tocaram o solo com sua testa e ofereceram-lhe magníficos presentes. Mais tarde, começaram a chegar pastores da região e de toda redondeza, ficaram em respeito e admirado silêncio ante o extraordinário Menino.
Depois de ficar um tem naquela serena e bela atmosfera, Naabot e seu grupo deram-se conta que era o momento de partir. Fazendo um ultima reverência, saíram sem fazer ruído e caminharam em silêncio. Naabot rompeu o silêncio, e despojando-se, um por um, dos seus preciosos anéis, entregou-os a seu primo enquanto dizia:
- “Cumpro o que disse. Pegue, Zabulão. És o pobre mais rico que existe. Estes anéis são somente uma migalha. Teu terreno, com sua gruta, não tem preço. Não há ouro em todo Império Romano que possa pagar aquele vale”.
Um dos guardas, ousando dirigir-lhe a palavra, perguntou ao seu amo:
- “Meu Senhor, Naabot, nos há chegado um novo profeta?”
Os primos entreolharam-se e Zabulão respondeu:
- “Não, meu filho. Diante de nós se cumpriu séculos e séculos de profecias… Esta noite, o Messias nasceu em Israel”.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Martin: o homem mais feliz do mundo

Martin era um humilde sapateiro de um pequeno povoado da montanha. Vivia sozinho. Havia anos que ficara viúvo e seus filhos havia para a cidade em busca de trabalho.

Martin, toda noite, antes de ir dormir lia um trecho dos evangelhos em frente ao fogo da lareira. Aquela noite despertou-se assustado. Ouviu claramente uma voz que lhe dizia: “Martin, amanhã Deus virá te ver”.

Levantou-se, mas não havia ninguém na casa, nem fora, é claro, nestas horas da fria noite…Levantou-se muito cedo e limpou e abriu sua sapataria. Deus devia encontra-lo todo perfeito. E se pôs a trabalha diante da janela, para ver quem passava pela rua. Depois de um tempo viu passar um mendigo vestido em farrapos e descalço. Compadecido, levantou-se imediatamente, e o fez entrar em sua casa para se aquecer um pouco junto ao fogo. Deu-lhe um copo de leite quente e preparou um pacote com pão, queijo e fruta, para o caminho e deu-lhe uns sapatos. 

Levou outro tempo trabalhando, quando viu passar uma jovem viúva com seu filho, mortos de frio. Também os fez entrar. Como já era meio dia, fez eles sentar à mesa e deu-lhe um prato de sopa que havia preparado,  caso Deus quisesse comer. Também, foi buscar roupas da sua mulher e outros de seu filho e deu à jovem senhora para que não passassem mais frio.

Passou a tarde e Martin se entristeceu, porque Deus não aparecia. De repente soou a campainha da porta e virou-se alegre crendo que era Deus. A porta se abriu com alguma violência e um bêbado entrou caindo. 

- Só me faltava esta! Veja, e se Deus vem agora… - disse o sapateiro. 

- Tenho sede! – exclamou o bêbado. 

Quando o bêbado foi embora já era muito tarde. E Martin estava muito triste. Deus não havia vindo. Sentou-se diante do fogo da lareira. Tomou os evangelhos e aquele dia o abriu às escuras. E leu: 

- “Porque tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de beber, estava nu e me vestistes… Cada vez que o fizestes com um dos meus pequeninos, é a mim que o fizestes…” 

O rosto do pobre sapateiro se iluminou. Claro que Deus havia o visitado! Não uma vez, mas sim, três vezes! E Martin, aquela noite, dormiu pensando que era o homem mais feliz do mundo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Abecedário para o Natal



Alegria! A vida ‘e um dom de Deus.
Bem-aventurado és, porque Deus é contigo.
Caminhe sempre em direção a Estrela, pois Deus sempre nos mostra o caminho.
Doe um sorriso, pois este pode ser o presente que alguém mais precisa de você.
Espere com amor, pois Cristo vem nascer em nosso coração.
Felicidade! O nascer de Cristo acontece a cada manhã!
Glorifique a Deus. Ele nos enviou o Salvador
Hoje, é o momento em que tem que começar, não deixe para amanhã!
Imite a Cristo. Ele soube realmente ser a diferença.
Julgue-se pelos teus atos e isto te levará longe.
Liberte-se de toda falsidade e mentiras, elas não trazem nada de bom.
Maravilha-se com a beleza da natureza que te rodeia.
Nasça todo dia como o sol, trazendo calor, vida e luz para o mundo.
Omita a mentira, a verdade sempre é o melhor remédio.
Pule de alegria, você é um vencedor a cada segundo do dia.
Queira sempre mais amor ao coração, pois só ele transforma.
Respeite todas as criaturas, pois Deus criou a todos de forma especial.
Solidariza-se com aqueles que precisam e necessitam de um amigo de verdade.
Tolere as dificuldades, pois ninguém disse que o caminho seria fácil.
Una a todos e mostre que você é feliz por tê-los ao teu lado.
Verdade: será a palavra de ordem para o nosso dia a dia e com as pessoas.
X é a incógnita que Deus coloca no nosso caminho, para aprendermos a escolher.
Zele pela amizade, pois este é o melhor presente que podemos ter.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A vaca no precipício



Um filósofo e seu discípulo resolveram fazer uma pesquisa e saber como viviam as pessoas na sua região. Chegando à primeira residência, foraa recebidos pelos moradores: um casal com cinco filhos - todos com roupas limpas, porém rasgadas. Depois de servir um cafézinho dispôs-se a responder as perguntas do visitante.
- O senhor está no meio desta floresta, não há nenhum comércio nas redondezas - observou o mestre ao pai de família.  Como sobrevivem aqui?
E o homem, calmamente, respondeu:
- Meu amigo, a situação é muito difícil. Graças a Deus, temos aqui uma vaquinha que não nos deixa passar fome. Às vezes sobra um pouco de leite e fazemos um pouco de queijo e vendemos na cidade vizinha. E assim vamos sobrevivendo.
O filósofo agradeceu pela informação, comtemplou o lugar por um momento e foi embora. No meio do caminho, disse ao discípulo:
- Jogue a vaquinha deste pobre homem no precipício.
- Não posso fazer isso, é a única forma de sustento da família! - Espantou-se o discípulo.
O filósofo permaneceu calado. Sem alternativa, o rapaz fez o que lhe mandara o mestre, e a vaquinha morreu na queda. A cena ficou gravada em sua memória.
Muitos anos depois, já um empresário bem sucedido, o ex-discípulo resolveu voltar ao mesmo lugar, contar tudo à família, pedir perdão e ajudá-la financeiramente. Chegando lá, para sua surpresa, encontrou o local transformado num belíssimo sítio, com árvores floridas, carro na garagem e rapazes e moças bem vestidos e felizes. Ficou desesperado, imaginando que a humilde família tivesse precisado vender o sítio para sobreviver. Apertou o passo e foi recebido por um caseiro muito simpático.
- Para onde foi a família que vivia aqui há dez anos? - perguntou.
- Continuam donos do sítio - foi a resposta.
Espantado, ele entrou correndo na casa, e o senhor logo o reconheceu. Perguntou como estava o filósofo, mas o rapaz nem respondeu, pois se achava ansioso demais para saber como o homem conseguira melhorar tanto o sítio e ficar tão bem de vida.
- Bem, nós tinhamos uma vaquinha, mas ela caiu no precipício e morreu - disse o senhor. - Então, para sustentar minha família, tive que plantar ervas e legumes. Como as plantas demoravam a crescer, comecei a cortar madeira para vender. Ao fazer isso, tive que replantar as árvores e precisei comprar mudas. Ao comprar mudas, lembrei-me da roupa de meus filhos e pensei que talvez pudesse cultivar algodão. Passei um ano difícil, mas quando a colheita chegou, eu já estava exportando legumes, algodão e ervas aromáticas. Nunca havia me dado conta de todo o meu potencial aqui: ainda bem que aquela vaquinha morreu. Era um atraso em nossas vidas.

sábado, 1 de dezembro de 2012

A inveja do rei

Uma grande carestia afligia a aldeia: ninguém tinha que comer e só um milagre poderia salvar os seus habitantes. Bani não se resignava e cada dia saía de casa à procura de alimento na floresta. Mas o calor tinha secado tudo e era cada vez mais difícil encontrar algo que comer. Um dia, já de regresso à aldeia de mãos vazias, encontrou entre os espinhos uma cabaça de forma alongada. Quando parou e olhou para ela, ouviu uma voz: «Onde vais, sozinho pela floresta?»

Olhou em redor, mas não viu ninguém. Era mesmo a cabaça que lhe falava! Encheu-se de coragem e explicou-lhe que procurava alimento para ele e a família. Ela respondeu-lhe: «Hoje ganhaste o dia: tira-me destes espinhos e pergunta-me o que sou capaz de fazer por ti.» Bani não se fez repetir a ordem, recolheu a cabaça e limpou-a com as mãos, perguntando-lhe: «Cabaça da forma alongada, que sabes tu fazer por mim?» A cabaça começou a vibrar com força e a dizer: «Dou-te papas, dou-te papas!» E imitou o gesto que se faz quando se tiram as papas de milho da panela. E o bonito foi que Bani se encontrou com um prato de papas, que comeu até se saciar, tal era a fome que sentia. Depois de comer, a cabaça disse-lhe: «Leva-me contigo e farás feliz a tua família.»

Bani levou a cabaça debaixo do braço e guardou-a na sua cabana. E com ela, quando chegou a noite, deu de comer à sua família. Bani tinha um irmão, de nome Sani e língua cumprida. Comeu também a sua porção de papas, mas de manhã cedo foi logo dizer ao rei o segredo da cabaça. E o rei, de imediato, mandou chamar Bani. «Ouvi dizer que encontraste uma cabaça que trouxe a felicidade à tua família», disse-lhe o rei, perguntando de que se tratava. Bani contou-lhe a história e mostrou-lhe a cabaça.

O rei fez como Bani lhe contou e perguntou: «Cabaça da forma alongada, que sabes fazer por mim?» Ela respondeu: «Sei dar-te papas!» E de novo, também o rei se encontrou com um belo prato de papas, que comeu com gosto. Mas, para surpresa de Bani, em vez de lhe devolver a cabaça, ficou com ela dizendo: «Trata-se de um assunto que, claramente, diz respeito ao rei, guardar a cabaça.»

Bani ficou furioso e na manhã seguinte não teve outro remédio senão voltar à floresta à procura de alimento. Teve outra surpresa. Viu outra cabaça, de forma diferente, muito mais comprida, que parecia um tubo, um bastão comprido, um grande cacete. «Aonde vais sozinho e zangado?», perguntou-lhe a cabaça. E Bani contou-lhe a história: «Encontrei uma cabaça capaz de dar de comer a toda a minha família e à aldeia, mas o rei tirou-ma e ficou com ela.» A cabaça disse-lhe de novo: «Pergunta-me o que posso fazer por ti.» Ele obedeceu-lhe e ela, agitando-se ameaçadoramente respondeu: «Bater-te, bater-te!» Bani ficou meio atordoado com a pancada, mas depois pensou: «Conheço alguém a quem esta cabaça vai dar uma lição!»

Levou a cabaça debaixo do braço e foi apresentar-se ao rei, dizendo-lhe que tinha encontrado uma cabaça ainda mais prodigiosa que a outra. O rei nem esperou por mais explicações e fez a pergunta: «Cabaça da forma de bastão, que sabes fazer pelo rei da aldeia?» A cabaça começou a agitar-se ameaçadoramente e golpear o rei na cabeça, sem parar. O rei gritava de medo e de dor e apanhou uma valente sova, antes que o filho e os servos conseguissem dominar a cabaça. Depois retirou-se nos seus aposentos, sem contar a história a ninguém.

Desde então na aldeia todos sabem que não é bonito ter inveja daquilo que os outros têm e que não convém a ninguém, nem ao rei, deixar-se dominar pela inveja. Quando se é invejoso pode acontecer que se procure papas de milho e arroz e se encontre lágrimas e sofrimento.