Uma
grande carestia afligia a aldeia: ninguém tinha que
comer e só um milagre poderia salvar os seus habitantes.
Bani não se resignava e cada dia saía de casa
à procura de alimento na floresta. Mas o calor tinha
secado tudo e era cada vez mais difícil encontrar
algo que comer. Um dia, já de regresso à aldeia
de mãos vazias, encontrou entre os espinhos uma cabaça
de forma alongada. Quando parou e olhou para ela, ouviu
uma voz: «Onde vais, sozinho pela floresta?»
Olhou
em redor, mas não viu ninguém. Era mesmo a
cabaça que lhe falava! Encheu-se de coragem e explicou-lhe
que procurava alimento para ele e a família. Ela
respondeu-lhe: «Hoje ganhaste o dia: tira-me destes
espinhos e pergunta-me o que sou capaz de fazer por ti.»
Bani não se fez repetir a ordem, recolheu a cabaça
e limpou-a com as mãos, perguntando-lhe: «Cabaça
da forma alongada, que sabes tu fazer por mim?» A
cabaça começou a vibrar com força e
a dizer: «Dou-te papas, dou-te papas!» E imitou
o gesto que se faz quando se tiram as papas de milho da
panela. E o bonito foi que Bani se encontrou com um prato
de papas, que comeu até se saciar, tal era a fome
que sentia. Depois de comer, a cabaça disse-lhe:
«Leva-me contigo e farás feliz a tua família.»
Bani
levou a cabaça debaixo do braço e guardou-a
na sua cabana. E com ela, quando chegou a noite, deu de
comer à sua família. Bani tinha um irmão,
de nome Sani e língua cumprida. Comeu também
a sua porção de papas, mas de manhã
cedo foi logo dizer ao rei o segredo da cabaça. E
o rei, de imediato, mandou chamar Bani. «Ouvi dizer
que encontraste uma cabaça que trouxe a felicidade
à tua família», disse-lhe o rei, perguntando
de que se tratava. Bani contou-lhe a história e mostrou-lhe
a cabaça.
O
rei fez como Bani lhe contou e perguntou: «Cabaça
da forma alongada, que sabes fazer por mim?» Ela respondeu:
«Sei dar-te papas!» E de novo, também
o rei se encontrou com um belo prato de papas, que comeu
com gosto. Mas, para surpresa de Bani, em vez de lhe devolver
a cabaça, ficou com ela dizendo: «Trata-se
de um assunto que, claramente, diz respeito ao rei, guardar
a cabaça.»
Bani
ficou furioso e na manhã seguinte não teve
outro remédio senão voltar à floresta
à procura de alimento. Teve outra surpresa. Viu outra
cabaça, de forma diferente, muito mais comprida,
que parecia um tubo, um bastão comprido, um grande
cacete. «Aonde vais sozinho e zangado?», perguntou-lhe
a cabaça. E Bani contou-lhe a história: «Encontrei
uma cabaça capaz de dar de comer a toda a minha família
e à aldeia, mas o rei tirou-ma e ficou com ela.»
A cabaça disse-lhe de novo: «Pergunta-me o
que posso fazer por ti.» Ele obedeceu-lhe e ela, agitando-se
ameaçadoramente respondeu: «Bater-te, bater-te!»
Bani ficou meio atordoado com a pancada, mas depois pensou:
«Conheço alguém a quem esta cabaça
vai dar uma lição!»
Levou
a cabaça debaixo do braço e foi apresentar-se
ao rei, dizendo-lhe que tinha encontrado uma cabaça
ainda mais prodigiosa que a outra. O rei nem esperou por
mais explicações e fez a pergunta: «Cabaça
da forma de bastão, que sabes fazer pelo rei da aldeia?»
A cabaça começou a agitar-se ameaçadoramente
e golpear o rei na cabeça, sem parar. O rei gritava
de medo e de dor e apanhou uma valente sova, antes que o
filho e os servos conseguissem dominar a cabaça.
Depois retirou-se nos seus aposentos, sem contar a história
a ninguém.
Desde
então na aldeia todos sabem que não é
bonito ter inveja daquilo que os outros têm e que
não convém a ninguém, nem ao rei, deixar-se
dominar pela inveja. Quando se é invejoso pode acontecer
que se procure papas de milho e arroz e se encontre lágrimas
e sofrimento.
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