sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O Filho



Um homem muito rico e seu filho tinham grande paixão pelas artes. Tinham de tudo em sua coleção, desde Picasso até Rafael. Muito unidos, se sentavam juntos para admirar as grandes obras de arte. Por uma desgraça do destino, seu filho foi para guerra. Foi muito valente mas morreu na batalha, quando resgatava outro soldado. O pai recebeu a notícia e sofreu profundamente a morte de seu único filho.
Um mês mais tarde, alguém bateu à sua porta... Era um jovem com uma grande tela em suas mãos e foi logo dizendo ao pai:
- O senhor não me conhece, mas eu sou o soldado por quem seu filho deu vida, ele salvou muitas vidas nesse dia e estava me levando a um lugar seguro quando uma bala lhe atravessou o peito, morrendo instantaneamente. Ele falava muito do senhor e de seu amor pelas artes.
O rapaz estendeu os braços para entregar a tela:
- Eu sei que não é muito, e eu também não sou um grande artista, mas sei também que seu filho gostaria que o senhor recebesse isto...
O pai abriu a tela. Era um retrato de seu filho, pintado pelo jovem soldado. Ele olhou com profunda admiração a maneira com que o soldado havia capturado a personalidade de seu filho na pintura. O pai estava tão atraído pela expressão dos olhos de seu filho, que seus próprios olhos encheram-se de lágrimas. Ele agradeceu ao jovem soldado, e ofereceu- se para pagar-lhe pela pintura.
- Não, senhor, eu nunca poderei pagar o que seu filho fez por mim ! Essa pintura é um presente...
O pai colocou a tela à frente de suas grandes obras de arte, e a cada vez que alguém visitava sua casa, ele mostrava o retrato do filho, antes de mostrar sua famosa galeria.
O homem morreu alguns meses mais tarde e se anunciou um leilão de todas as suas obras de arte. Muita gente importante e influente chegou ao local, no dia e horário marcados, com grandes expectativas de comprar verdadeiras obras de arte. Em exposição estava o retrato do filho. O leiloeiro bateu seu martelo para dar início ao leilão:
- Começaremos o leilão com o retrato "O FILHO". Quem oferece o primeiro lance ? Quanto oferecem por este quadro?
Um grande silêncio... Então um grito do fundo da sala:
- Queremos ver as pinturas famosas !!! Esqueça-se desta !!!
O leiloeiro insistiu:
- Alguém oferece algo por essa pintura? R$ 100,00? R$ 200,00?
Mais uma vez outra voz:
- Não viemos por esta pintura, viemos por Van Gogh, Picasso !!! Vamos às ofertas de verdade...
Mesmo assim o leiloeiro continuou:
- Quem leva "O FILHO"?
Finalmente, uma voz:
- Eu dou R$ 10,00 pela pintura...
Era o velho jardineiro da casa. Sendo um homem muito humilde era o único dinheiro que podia oferecer.
- Temos R$ 10,00! Quem dá R$ 20,00?" - gritou o leiloeiro.
As pessoas já estavam irritadas, não queriam a pintura do filho, queriam as que realmente eram valiosas para sua coleção. Então o leiloeiro bateu o martelo:
- Dou-lhe uma, dou-lhe duas, vendido por R$ 10,00!!!
- Agora, vamos começar com a coleção! - Gritou um.
O leiloeiro soltou seu martelo e disse:
- Sinto muito damas e cavalheiros, mas o leilão chegou ao seu final.
- Mas, e as pinturas? - Perguntaram os interessados.
- Eu sinto muito, - disse o leiloeiro, - quando me chamaram para fazer o leilão, havia um segredo estipulado no testamento do antigo dono. Não seria permitido revelar esse segredo até esse exato momento. Somente a pintura O FILHO seria leiloada; aquele que a comprasse, herdaria absolutamente todas as suas posses, inclusive as famosas pinturas. O homem que comprou O FILHO fica com tudo !...

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Orquestra da Amizade



Diz uma lenda árabe que dois amigos viajavam pelo deserto e num determinado ponto da viagem, discutiram e um deu uma bofetada no outro.
O outro ofendido, sem nada poder fazer, escreveu na areia:
HOJE O MEU MELHOR AMIGO DEU-ME UMA BOFETADA NO ROSTO.

Seguiram e adiante chegaram a um oásis onde resolveram banhar-se. O que havia sido esbofeteado e magoado começou a afogar-se, sendo salvo pelo amigo.
Ao recuperar-se, pegou num canivete e escreveu numa pedra:
HOJE O MEU MELHOR AMIGO SALVOU-ME A VIDA.

Intrigado, o amigo perguntou:
- Por que é que depois de te ter magoado escreves-te na areia e agora, depois de te ter salvo escreves-te na pedra?

Sorrindo, o outro amigo respondeu:
- Quando um grande amigo nos ofende, devemos escrever onde o vento do esquecimento e o perdão se encarreguem apagar a lembrança, por outro lado, quando nos acontece algo de grandioso, devemos gravar isso na pedra da memória e do coração onde nenhum vento do mundo poderá sequer suja-lo.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A carta



Ruth, olhou em sua caixa de correio, mas só havia uma carta. Pegou-a e olhou-a antes de abri-la. Mas logo parou, para observar com mais atenção. Não havia selo nem marcas do correio, somente seu nome e endereço. Ela decidiu ler a carta:
"Querida Ruth. Estarei próximo de sua casa, no sábado à tarde, e passarei para visitá-la. Com amor, Jesus".
As mãos da mulher tremiam quando colocou a carta sobre a mesa.
- "Porque o Senhor vai querer visitar-me? Não sou ninguém especial, não tenho nada para oferecer-lhe..." - pensou.
Preocupada, Ruth recordou o vazio reinante nas estantes de sua cozinha.
- "Ai, não!, não tenho nada para oferecer-lhe. Terei que ir ao mercado e comprar alguma coisa para o jantar".
Ruth abriu a carteira e colocou o conteúdo sobre a mesa: US 5,40.
"Bom, comprarei pão e alguma outra coisa, pelo menos".
Ruth colocou um casaco e se apressou em sair. Um pão francês, um pouco de peru e uma caixa de leite... Ruth ficou somente com US 0,12 que deveriam durar até a segunda-feira. Mesmo assim, sentiu-se bem e saiu a caminho de casa, com sua humilde compra debaixo de um dos braços.
- Olá, senhora, pode nos ajudar? - Ruth estava tão distraída pensando no jantar, que não viu as duas pessoas que estavam de pé no corredor.
Um homem e uma mulher, os dois vestidos com pouco mais que farrapos.
- Olhe, senhora, não tenho emprego. Minha mulher e eu temos vivido ali fora na rua. Bom, está fazendo frio e estamos sentindo fome. Se a senhora pudesse nos ajudar, ficaríamos muito agradecidos...
Ruth olhou para eles com mais cuidado. Estavam sujos e tinham mal-cheiro e, francamente, ela estava segura de que eles poderiam conseguir algum emprego se realmente quisessem.
- Senhor, eu queria ajudar, mas eu mesma sou uma mulher pobre. Tudo que tenho são umas fatias de pão, mas receberei um hóspede importante para esta noite e planejava servir isso a Ele.
- Sim, bom, sim senhora, entendo... De qualquer maneira, obrigado – respondeu o homem.
O pobre homem colocou o braço em volta dos ombros da mulher, e os dois se dirigiram para a saída. Ao vê-los saindo, Ruth sentiu um forte pulsar em seu coração.
- Senhor, espere! - O casal parou e voltou à medida que Ruth corria para eles e os alcançava na rua
- Olhem, querem aceitar este lanche? Conseguirei algo para servir ao meu convidado - dizia Ruth, enquanto estendia a mão, com o pacote do lanche.
- Obrigado, senhora, muito obrigado.
- Obrigada! - disse a mulher.
Foi aí que Ruth pôde perceber que a mulher tremia de frio.
- Sabe, tenho outro casaco em minha casa, tome este. - ofereceu Ruth.
Ela desabotoou o próprio casaco e o colocou sobre os ombros da mulher. Sorrindo, voltou a caminho de casa... sem casaco e sem nada para servir a seu convidado.
- Obrigado, senhora, muito obrigado - despediu-se, agradecido, o casal.
Ruth estava tremendo de frio quando chegou à porta de casa. Agora não tinha nada para oferecer ao Senhor. Procurou a chave rapidamente na bolsa, enquanto notava outra carta na caixa de correio.
"Que raro, o carteiro nunca vem duas vezes em um dia" - pensou.
Ela então apanhou a carta e abriu-a:
"Querida Ruth. Foi bom vê-la novamente. Obrigado pelo delicioso lanche e pelo esplêndido casaco. Com amor, Jesus."
O ar estava frio, porém, ainda sem se agasalhar, Ruth nem percebeu.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Caminho para o céu



Um homem, seu cavalo e seu cão caminhavam por uma estrada.. Depois de muito caminhar, esse homem se deu conta de  que ele, seu cavalo e seu cachorro haviam morrido num acidente. Às vezes os mortos levam algum tempo para se dar conta de sua nova condição... A caminhada era muito longa, morro acima, o sol era forte e eles ficaram suados e com muita sede. Precisavam desesperadamente de água. Numa curva do caminho, avistaram um portão magnífico, todo de mármore, que conduzia a uma praça calçada com blocos de ouro, no centro da qual havia uma fonte de onde jorrava água cristalina. O caminhante dirigiu-se ao homem que numa guarita, guardava a entrada.
- Bom dia! - ele disse.
- Bom dia! – respondeu o homem.
- Que lugar é este, tão lindo? - Ele perguntou.
- Isto aqui é o céu! - foi a resposta...
- Que bom que nós chegamos ao céu, estamos com muita sede - disse o homem.
- O senhor pode entrar e beber à vontade - disse o guarda indicando-lhe a fonte.
- Meu cavalo e meu cachorro também estão com sede.
- Lamento muito! - disse o guarda. Aqui não se permite a entrada de animais.
O homem ficou muito desapontado porque sua sede era grande. Mas ele não beberia, deixando seus amigos com sede. Assim, prosseguiu seu caminho. Depois de muito caminharem morro acima, com sede e cansaço multiplicados, ele chegou a um sítio, cuja entrada era marcada por uma porteira velha semiaberta. A porteira se abria para um caminho de terra, com árvores dos dois lados que lhe faziam sombra. À sombra de uma das árvores, um homem estava deitado, cabeça coberta com um chapéu, parecia que estava dormindo:
- Bom dia! - disse o caminhante.
- Bom dia! - disse o homem.
- Estamos com muita sede, meu cavalo, meu cachorro e eu.
- Há uma fonte naquelas pedras. - disse o homem indicando o lugar. - Podem beber a vontade.
O homem, o cavalo e o cachorro foram até a fonte e mataram a sede.
- Muito obrigado! - ele disse ao sair.
- Voltem quando quiserem - respondeu o homem.
- A propósito - disse o caminhante - qual é o nome deste lugar?
- Céu! - respondeu o homem.
- Céu? Mas o homem na guarita ao lado do portão de mármore disse que lá era o Céu!
- Aquilo não é o céu, aquilo é o inferno.
O caminhante ficou perplexo.
- Mas então, - disse ele – essa  informação falsa deve causar grandes confusões.
- De forma alguma. - respondeu o homem. Na verdade, eles nos fazem um grande favor. Porque lá ficam aqueles que são capazes de abandonar até seus melhores amigos...