domingo, 19 de dezembro de 2010

É Natal! O melhor presente é um livro

De "O Dia Online"

Martinho da Vila:
É Natal! O melhor presente é um livro

Rio - Oi, amiga! Alô, amigo! É Natal, tempo de presentear, e o melhor presente é um livro. Vamos ler? Vale qualquer um, mas não se engane vasculhando só as orelhas, o prefácio e a contracapa. Eu amo os livros, mas não sou um grande leitor e não aprecio livros grossos, pesados.

Além de ler, o que mais gosto de fazer é cantar. Qualquer palco é mágico e nele o artista se transforma. É também místico. Já entrei em cena num teatro com dor de dente, não senti nada durante a atuação e saí sentindo a dor. No palco é onde me sinto melhor, me dá prazer. Outra boa atividade é a composição, um prazeroso autossuplício. A junção de notas musicais para criar um novo som e o garimpo de palavras exatas para uma letra poética é angustiante, mas quando o compositor faz nascer uma nova música, tem a sensação de ter gerado um filho. Sinto o mesmo prazer quando boto o ponto final em um livro.

Quem lê atenciosamente uma obra inteira pela primeira vez tem a sensação de vitória e fica com a autoestima lá no alto, como me confidenciou Deuzina, uma das minhas irmãs que já está no céu: " Mano, já li o seu livro, o ‘Quizombas'. Fiquei feliz". O que mais sensibiliza um escritor é saber que alguém leu a sua obra, mesmo que seja um parente. "Alguma observação?", perguntei. " Só posso dizer que foi muito bom pra mim. Li tudinho. Não conta para ninguém, mas eu nunca havia lido um livro inteiro". Experimentei um estado de felicidade tão grande pelo que a mana me disse que as palavras me fugiram da boca. Balbuciei: "E... E aí?" Ela disse: "Estou me sentindo vitoriosa. Parece que sou outra pessoa". Respondi: " Pode crer que é. Leia mais que pegará gosto pelos livros e entrará para o superior grupo dos leitores". É um grupo seleto, porque o analfabetismo ainda não foi erradicado. Muitos alfabetizados não sabem ler direito e há pessoas formadas que só leram obras inteiras por obrigação, jamais pelo simples prazer. Entretanto, o interesse pelos livros está aumentando gradativamente, em parte graças às feiras literárias que acontecem por este Brasil afora. As Bienais do Rio e de São Paulo são frequentadas por milhões de pessoas e muitas feiras são realizadas em toda parte. Neste mês fui convidado para muitas, mas não dá pra ir a tudo que gostaria.

Participei de um evento literário em Angra dos Reis, fiz uma conferência no PEN Club do Brasil, outra em Angola na União dos Escritores e, no dia 2 próximo, falarei em Teresópolis. Não gosto muito de falar, prefiro escrever, cantar e ler. Boas obras devem ser relidas. É muito bom. Repus as mãos e os olhos no romance ‘Clara dos Anjos', do genial Lima Barreto, um romance com música, poesia, sexo, história... E senti uma nova emoção. Vale a pena conferir. Feliz Natal, amigos!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Decálogo do Leitor - Alberto Mussa


I - Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química. A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas: amplia a compreensão do mundo, permite a aquisição de conhecimentos objetivos, aprimora a capacidade de expressão, reduz os batimentos cardíacos, diminui a ansiedade, aumenta a libido. Mas é essencialmente lúdica, é essencialmente inútil, como devem ser as coisas que nos dão prazer.
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II – Comece e incentive a ler desde cedo, se puder. Ou pelo menos comece. E pelos clássicos, pelos consensuais. Serão cinqüenta, serão cem. Não devem faltar As mil e uma noites, Dostoiévski, Thomas Mann, Balzac, Adonias, Conrad, Jorge de Lima, Poe, García Márquez, Cervantes, Alencar, Camões, Dumas, Dante, Shakespeare, Wassermann, Melville, Flaubert, Graciliano, Borges, Tchekhov, Sófocles, Machado, Schnitzler, Carpentier, Calvino, Rosa, Eça, Perec, Roa Bastos, Onetti, Boccaccio, Jorge Amado, Benedetti, Pessoa, Kafka, Bioy Casares, Asturias, Callado,Rulfo, Nelson Rodrigues, Lorca, Homero, Lima Barreto, Cortázar, Goethe, Voltaire, Emily Brontë, Sade, Arregui, Verissimo, Bowles, Faulkner, Maupassant, Tolstói, Proust, Autran Dourado, Hugo, Zweig, Saer, Kadaré, Márai, Henry James, Castro Alves.
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III – Nunca leia sem dicionário. Se estiver lendo deitado, ou num ônibus, ou na praia, ou em qualquer outra situação imprópria, anote as palavras que você não conhece, para consultar depois. Elas nunca são escritas por acaso.
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IV – Perca menos tempo diante do computador, da televisão, dos jornais e crie um sistema de leitura, estabeleça metas. Se puder ler um livro por mês, dos 16 aos 75 anos, terá lido 720 livros. Se, no mês das férias, em vez de um, puder ler quatro, chegará nos 900. Com dois por mês, serão 1.440. À razão de um por semana, alcançará 3.120. Com a média ideal de três por semana, serão 9.360. Serão apenas 9.360. É importante escolher bem o que você vai ler.
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V – Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo. Escreva nele; assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. Também é importante criticar o autor, apontar falhas e inverossimilhanças. Anote telefones e endereços de pessoas proibidas, faça cálculos nas inúteis páginas finais. O livro é o mais interativo dos objetos. Você pode avançar e recuar, folheando, com mais comodidade e rapidez que mexendo em teclados ou cursores de tela. O livro vai com você ao banheiro e à cama. Vai com você de metrô, de ônibus, e de táxi. Vai com você para outros países. Há apenas duas regras básicas: use lápis; e não empreste.
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VI - Não se deixe dominar pelo complexo de vira-lata. Leia muito, leia sempre a literatura brasileira. Ela está entre as grandes. Temos o maior escritor do século XIX, que foi Machado de Assis; e um dos cinco maiores do século XX, que foram Borges, Perec, Kafka, Bioy Casares e Guimarães Rosa. Temos um dos quatro maiores épicos ocidentais, que foram Homero, Dante, Camões e Jorge de Lima. E temos um dos três maiores dramaturgos de todos os tempos, que foram Sófocles, Shakespeare e Nelson Rodrigues.
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VII - Na natureza, são as espécies muito adaptadas ao próprio hábitat que tendem mais rapidamente à extinção. Prefira a literatura brasileira, mas faça viagens regulares. Das letras européias e da América do Norte vem a maioria dos nossos grandes mestres. A literatura hispano-americana é simplesmente indispensável. Particularmente os argentinos. Mas busque também o diferente: há grandezas literárias na África e na Ásia. Impossível desconhecer Angola, Moçambique e Cabo Verde. Volte também ao passado: à Idade Média, ao mundo árabe, aos clássicos gregos e latinos. E não esqueça o Oriente; não esqueça que literatura nenhuma se compara às da Índia e às da China. E chegue, finalmente, às mitologias dos povos ágrafos, mergulhe na poesia selvagem. São eles que estão na origem disso tudo; é por causa deles que estamos aqui.
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VIII – Tente evitar a repetição dos mesmos gêneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmos autores. A grande literatura está espalhada por romances, contos, crônicas, poemas e peças de teatro. Nenhum gênero é, em tese, superior a outro. Não se preocupe, aliás, com o conceito de gênero: história, filosofia, etnologia, memórias, viagens, reportagem, divulgação científica, auto-ajuda – tudo isso pode ser literatura. Um bom livro tem de ser inteligente, bem escrito e capaz de provocar alguma espécie de emoção.
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IX - A vida tem outras coisas muito boas. Por isso, não tenha pena de abandonar pelo meio os livros desinteressantes. O leitor experiente desenvolve a capacidade de perceber logo, em no máximo 30 páginas, se um livro será bom ou mau. Só não diga que um livro é ruim antes de ler pelo menos algumas linhas: nada pode ser tão estúpido quanto o preconceito.
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X – Forme seu próprio cânone. Se não gostar de um clássico, não se sinta menos inteligente. Não se intimide quando um especialista diz que determinado autor é um gênio, e que o livro do gênio é historicamente fundamental. O fato de uma obra ser ou não importante é problema que tange a críticos; talvez a escritores. Não leve nenhum deles a sério; não leve a literatura a sério; não leve a vida a sério. E faça o seu próprio decálogo: neste momento, você será um leitor.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Ler é o remédio

Atire o primeiro livro quem nunca buscou literatura para a afta, a cólica, o cabelo estragado, o mau-humor ou o excesso de peso

Silvia Zamboni/Folhapress
A dona de casa Cristina Nagao, fã da autoajuda saudável


Começo o dia com a "bebida de Jafé", mix de frutas, iogurte e farinha de linhaça que, diz o livro "A dieta de Jesus" (Planeta, 144 págs., R$ 19,90), é antioxidante.
Tento preparar um lanche para levar ao trabalho, algo que melhore o humor e deixe a cintura fina, como orienta o "Coma e Seja Feliz" (Thomas Nelson Brasil, 320 págs., R$ 34,90). Duas colheres de abacate amassado, 1/4 de xícara de alfafa, 1 fatia de cebola e... já estou estressadíssima. Alguém tem toda aquela lista na geladeira ou tempo para picar tudo antes do batente? Para ter humor, cintura e ser feliz, cozinheira é essencial.
No almoço, folheio outro livro saudável, o "Manual do Proprietário" (Delphos/Aguiar, 224 págs., R$ 45). Que prega guardar um dia por semana só para líquidos, nada de mastigar. Tarde demais.
Decido tentar "Mulheres, Comida & Deus"(Lua de Papel, 192 págs., R$ 27,90), já que a autora costuma levar pacientes a retiros espirituais que pregam a não-dieta.
Mas há regras também na não-dieta, descubro, saudosa do tempo em que bomba de chocolate era só bomba de chocolate, não frustração, como afirma um capítulo.
Difícil ser "Magra e Poderosa" (Audiolivro, 5 horas, R$ 24,90), como nos querem Rory Freedman e Kim Barnouin. As duas americanas tinham péssimos hábitos alimentares até que se conheceram numa agência de talentos (aqui é de empregos, mesmo), estudaram "nutrição holística" e lançaram o título que está entre os best-sellers do "New York Times".
Ao menos, são mais divertidas que a fofa de "Reeduque seu Cérebro, Remodele seu Corpo"(DVS, 225 págs., R$ 42). Para essa autora, peso extra é igual a "cérebro preguiçoso".
Só na última Bienal do Livro, foram lançados pelo menos 700 títulos sobre saúde e mais 200 sobre beleza, todos na base do "como fazer".
No ano passado, a autoajuda representava 5,44% do total de livros produzidos no Brasil, de acordo com informações da Câmara Brasileira de Livros.
No Reino Unido, a editora da Amazon, Fiona Buckland, diz que o filão saúde-beleza cresce em média 40% ao ano.
"Isso é um retrato dessa cultura que enxerga o corpo como capital. Saúde é o que mostramos, o que aparece, não é mais o que somos interiormente ou ausência de dor", diza antropóloga Mirian Goldenberg, colunista do Equilíbrio. "Esses livros vendem a concepção de um corpo jovem e que não vai morrer nunca. Esse é "o" mercado", diz Goldenberg.
"A autoajuda na saúde está ganhando cada vez mais valor na sociedade atual. Mas se as pessoas têm preocupações reais com o corpo e a mente, deveriam procurar um médico", afirma o vice-presidente do grupo de médicos de família da Inglaterra, Graham Archard.
É a mesma opinião de seu colega brasileiro, Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. "Prescrever dieta é coisa de médico e nenhum profissional de projeção realmente importante escreve essas obras com tanto apelo mercadológico", opina.
Mas então esses livros são perigosos? "Nada. A pessoa compra, faz uma sopinha e em seguida o livro vai ficar na estante", diz Lopes
Não é a intenção da dona de casa Cristina Nagao, 41, que saiu da Bienal do Livro na sexta retrasada carregando cinco sacolas.
"Comprei o "Estilo Saudável" (Alaúde, 192 págs., R$ 29,90) da Cátia Fonseca, sabe, apresentadora do "Mulheres?'", disse, referindo-se a um veterano programa de TV e mostrando a capa.
Ela conta que, depois de uns livros, mudou de vida. Quase não come frituras e toma bastante água, mas a ginástica, confessa, ainda não entrou na sua rotina.
O que ela aprendeu de mais importante nesses livros? "Que a cozinha pode ser uma fonte imensa de bactérias. Agora, sempre que chego da feira lavo tudo e tiro dos plásticos cor-de-rosa."
A administradora de empresa Silmara Mendonça, 36, comprou "50 Frutas e seus Benefícios Medicinais" (Elevação, 152 págs., R$ 19,90) e estava encantada com o poder de um unguento de folha de abacateiro contra aftas.
Silmara também investiu em "Dr. Cabelo" ( Elevação, 192 págs., R$ 28,40). "Eu sei que chapinha faz mal, mas não sabia que água de coco batida com a polpa melhora o estrago", contou.
Ela afirma adorar dicas, acha que essa categoria de leitura é mais útil do que romances. "Romance? Só quero com o meu marido", falou assim, bem prática.
Antes de comprar um desses livros é legal saber quem é o autor, pesquisar sobre ele. Quem recomenda é o médico Antonio Carlos Lopes.
Os fisioterapeutas Alessandra Concurueo, 25, e Rafael Reichler, 28, consumidores de livros de saúde, sabem o que levam para casa. "Há editoras especializadas, é melhor comprar de quem entende", diz Rafael.
Para o sociólogo Dario Caldas, do Observatório de Sinais, imaginar que os títulos espetaculosos manipulam pessoas "ingênuas" é voltar aos anos 60, quando a TV era culpada por tudo. "Os livros funcionam para uma parcela da população. Mesmo que sejam como bálsamo."
"As pessoas querem saber "como" tudo. Da felicidade ao nó de gravata", diz Caldas, segundo quem há uma nova safra de livros desse tipo que são muito úteis. Tipo "Atividades do Dia-a-Dia Sem Segredos - Para Deficientes Visuais", da fundação Dorina Nowill. Mas ele também não se incomoda com obras que ensinam a limpar a pele. "Agora, educar a comer e a ser feliz, acho complicado."
Não dá para lutar contra a autoajuda, melhor aderir. Se as dicas e receitas não funcionarem, ponho para rodar o audiolivro "Ame Suas Rugas" (Universidade Falada, R$ 11,99) e relaxo.


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq3108201006.htm

quarta-feira, 21 de abril de 2010

domingo, 24 de janeiro de 2010

Mensagem do Papa para o 44.º Dia Mundial das Comunicações Sociais


Queridos Irmãos e Irmãs,

O tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais - "O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra" - insere-se perfeitamente no trajecto do Ano Sacerdotal e traz à ribalta a reflexão sobre um âmbito vasto e delicado da pastoral como é o da comunicação e do mundo digital, que oferece ao sacerdote novas possibilidades para exercer o seu serviço à Palavra e da Palavra. Os modernos meios de comunicação fazem parte, desde há muito tempo, dos instrumentos ordinários através dos quais as comunidades eclesiais se exprimem, entrando em contacto com o seu próprio território e estabelecendo, muito frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes, mas a sua recente e incisiva difusão e a sua notável influência tornam cada vez mais importante e útil o seu uso no ministério sacerdotal.

A tarefa primária do sacerdote é anunciar Cristo, Palavra de Deus encarnada, e comunicar a multiforme graça divina portadora de salvação mediante os sacramentos. Convocada pela Palavra, a Igreja coloca-se como sinal e instrumento da comunhão que Deus realiza com o homem e que todo o sacerdote é chamado a edificar n’Ele e com Ele. Aqui reside a altíssima dignidade e beleza da missão sacerdotal, na qual se concretiza de modo privilegiado aquilo que afirma o apóstolo Paulo: "Na verdade, a Escritura diz: "Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido". [...] Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas como hão-de invocar Aquele em quem não acreditam? E como hão-de acreditar n’Aquele de quem não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar, se não houver quem lhes pregue? E como hão-de pregar, se não forem enviados?" (Rm 10,11.13-15).

Hoje, para dar respostas adequadas a estas questões no âmbito das grandes mudanças culturais, particularmente sentidas no mundo juvenil, tornaram-se um instrumento útil as vias de comunicação abertas pelas conquistas tecnológicas. De facto, pondo à nossa disposição meios que permitem uma capacidade de expressão praticamente ilimitada, o mundo digital abre perspectivas e concretizações notáveis ao incitamento paulino: "Ai de mim se não anunciar o Evangelho!" (1 Cor 9,16). Por conseguinte, com a sua difusão, não só aumenta a responsabilidade do anúncio, mas esta torna-se também mais premente reclamando um compromisso mais motivado e eficaz. A este respeito, o sacerdote acaba por encontrar-se como que no limiar de uma "história nova", porque quanto mais intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais será chamado o sacerdote a ocupar-se disso pastoralmente, multiplicando o seu empenho em colocar os media ao serviço da Palavra.

Contudo, a divulgação dos "multimédia" e o diversificado "espectro de funções" da própria comunicação podem comportar o risco de uma utilização determinada principalmente pela mera exigência de marcar presença e de considerar erroneamente a internet apenas como um espaço a ser ocupado. Ora, aos presbíteros é pedida a capacidade de estarem presentes no mundo digital em constante fidelidade à mensagem evangélica, para desempenharem o próprio papel de animadores de comunidades, que hoje se exprimem cada vez mais frequentemente através das muitas "vozes" que surgem do mundo digital, e anunciar o Evangelho recorrendo não só aos media tradicionais, mas também ao contributo da nova geração de audiovisuais (fotografia, vídeo, animações, blogues, páginas internet) que representam ocasiões inéditas de diálogo e meios úteis inclusive para a evangelização e a catequese.

Através dos meios modernos de comunicação, o sacerdote poderá dar a conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a descobrirem o rosto de Cristo, conjugando o uso oportuno e competente de tais meios - adquirido já no período de formação - com uma sólida preparação teológica e uma espiritualidade sacerdotal forte, alimentada pelo diálogo contínuo com o Senhor. No impacto com o mundo digital, mais do que a mão do operador dos media, o presbítero deve fazer transparecer o seu coração de consagrado, para dar uma alma não só ao seu serviço pastoral, mas também ao fluxo comunicativo ininterrupto da "rede".

Também no mundo digital deve ficar patente que a amorosa atenção de Deus em Cristo por nós não é algo do passado nem uma teoria erudita, mas uma realidade absolutamente concreta e actual. De facto, a pastoral no mundo digital há-de conseguir mostrar, aos homens do nosso tempo e à humanidade desorientada de hoje, que "Deus está próximo, que, em Cristo, somos todos parte uns dos outros" [Bento XVI, Discurso à Cúria Romana na apresentação dos votos de Natal: "L’Osservatore Romano" (21-22 de Dezembro de 2009) pág. 6].

Quem melhor do que um homem de Deus poderá desenvolver e pôr em prática, mediante as próprias competências no âmbito dos novos meios digitais, uma pastoral que torne Deus vivo e actual na realidade de hoje e apresente a sabedoria religiosa do passado como riqueza donde haurir para se viver dignamente o tempo presente e construir adequadamente o futuro? A tarefa de quem opera, como consagrado, nos media é aplanar a estrada para novos encontros, assegurando sempre a qualidade do contacto humano e a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades espirituais; oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era "digital", os sinais necessários para reconhecerem o Senhor; dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento humano integral. A Palavra poderá assim fazer-se ao largo no meio das numerosas encruzilhadas criadas pelo denso emaranhado das auto-estradas que sulcam o ciberespaço e afirmar o direito de cidadania de Deus em todas as épocas, a fim de que, através das novas formas de comunicação, Ele possa passar pelas ruas das cidades e deter-se no limiar das casas e dos corações, fazendo ouvir de novo a sua voz: "Eu estou à porta e chamo. Se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo" (Ap 3, 20).

Na Mensagem do ano passado para idêntica ocasião, encorajei os responsáveis pelos processos de comunicação a promoverem uma cultura que respeite a dignidade e o valor da pessoa humana. Este é um dos caminhos onde a Igreja é chamada a exercer uma "diaconia da cultura" no actual "continente digital". Com o Evangelho nas mãos e no coração, é preciso reafirmar que é tempo também de continuar a preparar caminhos que conduzam à Palavra de Deus, não descurando uma atenção particular por quem se encontra em condição de busca, mas antes procurando mantê-la desperta como primeiro passo para a evangelização. Efectivamente, uma pastoral no mundo digital é chamada a ter em conta também aqueles que não acreditam, caíram no desânimo e cultivam no coração desejos de absoluto e de verdades não caducas, dado que os novos meios permitem entrar em contacto com crentes de todas as religiões, com não-crentes e pessoas de todas as culturas. Do mesmo modo que o profeta Isaías chegou a imaginar uma casa de oração para todos os povos (cf. Is 56,7), não se poderá porventura prever que a internet possa dar espaço - como o "pátio dos gentios" do Templo de Jerusalém -também àqueles para quem Deus é ainda um desconhecido?

O desenvolvimento das novas tecnologias e, na sua dimensão global, todo o mundo digital representam um grande recurso, tanto para a humanidade no seu todo como para o homem na singularidade do seu ser, e um estímulo para o confronto e o diálogo. Mas aquelas apresentam-se igualmente como uma grande oportunidade para os crentes. De facto nenhum caminho pode, nem deve, ser vedado a quem, em nome de Cristo ressuscitado, se empenha em tornar-se cada vez mais solidário com o homem. Por conseguinte e antes de mais nada, os novos media oferecem aos presbíteros perspectivas sempre novas e, pastoralmente, ilimitadas, que os solicitam a valorizar a dimensão universal da Igreja para uma comunhão ampla e concreta; a ser no mundo de hoje testemunhas da vida sempre nova, gerada pela escuta do Evangelho de Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos salvar. Mas, é preciso não esquecer que a fecundidade do ministério sacerdotal deriva primariamente de Cristo encontrado e escutado na oração, anunciado com a pregação e o testemunho da vida, conhecido, amado e celebrado nos sacramentos sobretudo da Santíssima Eucaristia e da Reconciliação.

A vós, queridos Sacerdotes, renovo o convite a que aproveiteis com sabedoria as singulares oportunidades oferecidas pela comunicação moderna. Que o Senhor vos torne apaixonados anunciadores da Boa Nova na "ágora" moderna criada pelos meios actuais de comunicação.

Com estes votos, invoco sobre vós a protecção da Mãe de Deus e do Santo Cura d’Ars e, com afecto, concedo a cada um a Bênção Apostólica.

Vaticano, 24 de Janeiro - dia de São Francisco de Sales - de 2010