sábado, 13 de outubro de 2012

As sementes



Duas sementes descansavam, lado a lado, no solo fértil da Primavera...
A primeira semente disse:
- Eu quero crescer! Quero enviar as minhas raízes às profundezas do solo e fazer os meus rebentos rasgarem a superfície da terra... Quero abrir os meus botões como bandeiras anunciando a chegada da Primavera... Quero sentir o calor do sol no meu rosto e a bênção do orvalho da manhã nas minhas pétalas! E assim ela cresceu…
A segunda semente disse:
- Tenho medo! Se eu enviar as minhas raízes às profundezas, não sei o que encontrarei na escuridão. Se rasgar a superfície dura, posso danificar os meus rebentos... E se eu deixar que os meus botões se abram e um caracol tentar come-los? E se abrir as minhas flores e uma criança me arrancar do chão? Não é muito melhor esperar até que eu me sinta segura? E assim ela esperou…
Uma galinha ciscando no solo da estação recente, à procura de comida, encontrou-a e rapidamente comeu a semente à espera de segurança…

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O prego



Certo feirante, depois de um dia muito proveitoso com excelentes resultados no negócio, se dispôs a voltar para casa antes do entardecer. Montou seu cavalo e, prendendo muito bem à cintura a bolsa com seu dinheiro, deu início à jornada de volta. Lá pelas tantas, parou em um pequeno povoado para uma rápida refeição. Quando já se preparava para prosseguir na caminhada, o moço da cachoeira o avisou:
- “Senhor, está faltando um prego na ferradura da pata esquerda do seu animal. Não seria melhor providenciar outro?”
- “Deixa faltar...” - respondeu o feirante – “Estou com muita pressa; sem dúvida a ferradura agüentará bem as horas que ainda restam a percorrer”. E lá se foi ele.
À tardinha, quando parou para dar ração pro cavalo, o encarregado da cavalaria também foi ter com ele,  dizendo:
- “Olha, está faltando a ferradura da pata esquerda do seu animal. Quer que o nosso ferreiro veja isto?”
- “Deixa faltar. Estou com muita pressa e restam poucas horas para que cheguemos ao nosso destino. Por certo o cavalo resistirá” - respondeu ele.
Continuou a cavalgar, mas já não conseguira andar muito, quando notou que o cavalo estava manquejando. Tentou continuar na esperança de chegar em casa; entretanto, depois de poucos metros o animal passou a tropeçar e, com pouco mais de tempo, numa queda mais forte, o cavalo fraturou a perna e já não pôde mais sair do lugar.
Era noite e o feirante viu-se obrigado a deixar o pobre animal caído, sem qualquer atendimento. Desprendendo a caixa onde carregava uma série de apetrechos para seu uso na feira, pô-la às costas e foi caminhando. A distância que parecia curta tornou-se longa e penosa. Só muito tarde chegou ele cansado, faminto e preocupado com a possível perda do animal. Foi então que começou a raciocinar: Tudo por causa de um simples prego que não foi substituído no momento que se fez necessário.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

João 3,16



Na cidade de São Paulo, numa noite fria e escura de inverno, próximo a uma esquina por onde passavam várias pessoas, um garotinho vendia balas a fim de conseguir alguns trocados. Mas o frio estava intenso e as pessoas já não paravam mais quando ele as chamava. Sem conseguir vender mais nenhuma bala, ele sentou na escada em frente a um loja e ficou observando o movimento das pessoas. Sem que ele percebesse, um policial se aproximou.
"Está perdido, filho?" – O garoto meneou a cabeça.
"Só estou pensando onde vou passar a noite hoje. Normalmente durmo em minha caixa de papelão, perto do correio, mas hoje o frio está terrível. O senhor sabe me dizer se há algum lugar onde eu possa passar esta noite?"
O policial olhou-o por uns instantes e coçou a cabeça, pensativo.
"Se você descer por esta rua", - disse ele apontando o polegar na direção de uma rua, à esquerda - , “Lá embaixo vai encontrar um casarão branco; chegando lá, bata na porta e quando atenderem apenas diga 'João 3,16'”.
Assim fez o garoto. Desceu a rua estreita e quando chegou em frente ao casarão branco, subiu os degraus da escada e bateu na porta. Quem atendeu foi uma mulher idosa, de feição bondosa.
"João 3,16", - disse ele, sem entender direito.
"Entre, meu filho". - A voz era meiga e agradável.
Assim que ele entrou, foi conduzido por ela até a cozinha onde havia uma cadeira de balanço antiga, bem ao lado de um velho fogão de lenha aceso.
"Sente-se filho, e espere um instantinho, tá?"
O garoto se sentou e, enquanto observava a velha e bondosa mulher se afastar, pensou consigo mesmo: "João 3,16... Eu não entendo o que isso significa, mas sei que aquece a um garoto com frio". Pouco tempo depois a mulher voltou.
"Você está com fome?", perguntou ela.
"Estou um pouquinho, sim... há dois dias não como nada e meu estômago já começa a roncar".
A mulher então o levou até a sala de jantar, onde havia uma mesa repleta de comida. Rapidamente o garoto sentou-se à mesa e começou a comer; comeu de tudo, até não aguentar mais.
Então ele pensou consigo mesmo: "João 3,16... Eu não entendo o que isso significa, mas sei que mata a fome de um garoto faminto".
Depois a bondosa senhora o levou ao andar superior, onde se encontrava um quartinho com uma banheira cheia de água quente. O garoto só esperou que a mulher se afastasse e, então, rapidamente se despiu e tomou um belo banho, como há muito tempo não fazia.
Enquanto esfregava a bucha pelo corpo pensou consigo mesmo: "João 3,16... Eu não entendo o que isso significa, mas sei que torna limpo um garoto que há muito tempo estava sujo".
Cerca de meia hora depois a velha e bondosa mulher voltou e levou o garoto até um quarto onde havia uma cama de madeira, antiga, mas grande e confortável. Ela o abraçou, deu-lhe um beijo na testa e, após deitá-lo na cama, desligou a luz e saiu. Ele se virou para o canto e ficou imóvel, observando a garoa que caía do outro lado do vidro da janela. E ali, confortável como nunca, ele pensou consigo mesmo: "João 3,16... Eu não entendo o que isso significa, mas sei que dá repouso a um garoto cansado".
No outro dia, de manhã, a bondosa senhora preparou uma bela e farta mesa e o convidou para o café da manhã. Quando o garoto terminou de comer, ela o levou até a cadeira de balanço, próximo ao fogão de lenha. Depois seguiu até uma prateleira e apanhou um livro grande, de capa escura. Era uma Bíblia. Ela voltou, sentou-se numa outra cadeira, próximo ao garoto e olhou dentro dos olhos dele, de maneira doce e amigável.
"Você entende João 3,16, filho?"
"Não, senhora... eu não entendo... A primeira vez que ouvi isso foi ontem à noite... um policial que falou...".
Ela concordou com a cabeça, abriu a Bíblia em João 3,16 e começou a explicar sobre Jesus. E ali, aquecido junto ao velho fogão de lenha, a velha senhora leu o texto e explicava para o garoto. E enquanto lágrimas de felicidade deixavam seus olhos e rolavam face à baixo, ele pensou consigo mesmo: "João 3,16... ainda não entendo muito bem o que isso significa, mas agora sei que isso faz um garoto perdido se sentir realmente seguro".
 

Só um lembrete do Quintana ...

'A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo:
 Não deixe de fazer algo que gosta, devido à falta de tempo,
pois a única falta que terá,
será desse tempo que infelizmente não voltará mais.'
Mário Quintana

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Deus existe?



Um homem, como de costume, foi ao barbeiro cortar o cabelo e fazer a barba. Como eram conhecidos, o barbeiro e o cliente, enquanto o serviço era executado conversavam sobre diversos assuntos ate que o barbeiro comentou:
- "Deus não existe!"
O cliente surpreso, perguntou:
- "Como e que e? Deus não existe?"
E o barbeiro argumentou:
- "Isso mesmo que você ouviu. Deus não existe! Vejo todos os dias na televisão crianças passando fome, vivendo na miséria, políticos roubando impunemente, inocentes morrendo de maneira bárbara e tantas outras coisas revoltantes. Você acha que se Deus existisse Ele permitiria tanta injustiça? Deus não existe!"
O cliente ouviu tudo muito atento. Enfim o corte ficou pronto e a barba estava feita, o cliente levantou-se, pagou a conta e saiu refletindo sobre tudo o que havia escutado do barbeiro até que se deparou com um mendigo na esquina, sentado no chão com os cabelos embaraçados, batendo nos ombros e com a barba enorme ainda por fazer. Vendo isso voltou na mesma hora a barbearia e chegando afirmou:
- "Barbeiros não existem!"
O barbeiro ouvindo isso, não entendeu, mas o cliente reafirmou:
- "Barbeiros não existem!"
- "Como não existem? Eu estou aqui, sou barbeiro. Você deve estar ficando doido, como você diz pra mim que eu não existo. Sou um barbeiro". 
Então o cliente explicou:
- "Chegando à esquina vi um homem com os cabelos grandes e embaraçados e com a barba por fazer. Se barbeiro existisse ele não estaria assim."
- "Ah, eu existo, sim! O problema e que ele nunca veio ate aqui cortar o cabelo e fazer a barba."
- "Pois é!" - disse então o cliente. – "Deus também existe, o problema e que as pessoas não vão até Ele, por isso sofrem. Deus esta sempre de portas abertas todos os dias aguardando que a gente resolva arrumar nossas vidas".